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O que o talmud diz sobre Jesus.


 A Discussão sobre as Menções de Jesus no Talmude

Já na primeira leitura dos trechos do Talmude que mencionam Jesus é possível notar o desprezo dos rabinos por ele e pelo Cristianismo. Na visão deles, Jesus não era uma figura religiosa importante e o Cristianismo uma seita insignificante. Jesus é mencionado em passagens breves, geralmente exemplificando um autor de um mal feito, ou como exemplo de um pervertido. O desprezo é tanto que ele chega a ser mencionado às vezes como peloni (uma certa pessoa), ou em outras passagens nenhum nome é mencionado em episódios claramente referentes a ele, até mesmo em trechos de manuscritos que não foram censurados.

Por conseguinte, este desprezo dificulta a identificação da menção de Jesus nas passagens mais implícitas, dificuldade que divide os pesquisadores deste assunto naqueles que são minimalistas, ou seja, aqueles que atribuem um pequeno número de passagens referentes a Jesus, os maximalistas, isto é, aqueles que atribuem um grande número de passagens a Jesus e, por fim, os moderados, que são aqueles que atribuem uma quantidade moderada, permanecendo entre os dois extremos. Como resultado do caráter implícito na menção de Jesus, uma calorosa discussão sobre este assunto surgiu entre os pesquisadores. Com base neste debate, as passagens referentes a Jesus podem ser divididas em passagens explícitas, onde ele é mencionado diretamente pelos nomes Yeshu (Jesus) e Yeshu ha-Notzri (Jesus o Nazareno) e as passagens implícitas, onde ele é mencionado por nomes tais como: ben Stada (filho de Stada), ben Pandera(filho de Pandera), Balaão ou peloni (uma certa pessoa). 

Os trechos censurados nos manuscritos acrescentam ainda mais dificuldade na identificação da menção sobre Jesus. Portanto, não será possível seguir neste estudo somente a tradução inglesa da versão impressa Soncino, uma vez que esta reproduz os trechos censurados, mas sim, para efeito de maior abrangência, o cotejo de diferentes manuscritos feito por Peter Schäfer em seu livro, o que torna possível a identificação dos trechos censurados, bem como o conhecimento da redação original nos trechos dos manuscritos que escapuliram da fúria dos censores cristãos 


A Família de Jesus (Yeshu)


Antes de mencionar as passagens no Talmude Babilônico que mencionam os familiares de Jesus (Yeshu) é preciso informar a versão judaica do seu nascimento. Muito diferente dos evangelhos canônicos, nas versões judaicas, desde o registro do pensador grego Celso e passando por algumas versões do Sefer Toledoth Yeshu compiladas na Idade Média, ele não nasceu de uma mãe virgem, mas sim de uma relação adúltera entre sua mãe Miriam (Maria) e o soldado José Pandera, pois ela já estava comprometida com um noivo, portanto Jesus foi um filho bastardo. Então, Peter Schäfer explica porque o nome “Stada” é também atribuído a sua mãe Miriam (Maria): “Stada é um epíteto que deriva da raiz aramaica/hebraica sat.ah/sete (desviar do caminho correto, extraviar, ser infiel). Em outras palavras, sua mãe Miriam era também chamada de “Stada” porque ela era uma sotah, uma mulher suspeita de adultério, ou melhor, condenada por adultério” (Schäfer, 2007: 17). Já seu pai biológico, José Pandera, era um soldado que residia perto da casa de sua mãe Miriam, então ele, atraído por sua beleza, a seduziu. Ela engravidou e em seguida deu à luz um filho bastardo, quem ela batizou com o nome de Yeshu (Jesus).

Esta tradição parece anteceder ao Toledoth Yeshu e ao Talmude, uma vez que é relatada na obra de Celso, onde “a mãe de Jesus é descrita como tendo sido expulsa de casa pelo carpinteiro com quem ela estava comprometida, visto que ela foi condenada por adultério e teve um filho com um certo soldado chamado Panthera 

O desprezo dos rabinos por Jesus era tanto, nos primeiros anos do Cristianismo, que no Talmude Babilônico, eles se envolvem nas seguintes dúvidas e confusões: “Ele era o filho de Stada e não o filho de Pandera? Rabino Hisda disse: o marido era Stada e o amante Pandera. Mas, não era o marido Pappos ben Yehuda e sua mãe Stada? Sua mãe era Miriam, a mulher que deixou o cabelo crescer.  Esta foi expulsa de casa por ter sido infiel ao marido”  


Jesus como tolo


Antes de citar a próxima menção de Jesus no Talmude, é preciso informar o contexto da qual ela foi retirada. Diferente dos evangelhos canônicos, cujos milagres de Jesus são de origem divina, a tradição judaica regista duas versões sobre a origem dos poderes mágicos de Jesus. A versão registrada em alguns textos do Toledoth Yeshu informa que Jesus, a fim de obter poder, roubou o conhecimento do Nome Inefável de Deus no templo de Jerusalém, através da trapaça de escrever o nome em um pequeno pedaço de pergaminho e escondê-lo em um corte feito na sua perna, a fim de não ser surpreendido pelos leões que guardavam a saída do santuário e faziam com que aqueles que memorizassem o nome ... o pensador grego Celso, afirma que Jesus aprendeu sua magia no Egito, quando trabalhou naquela região como servo. “Ela (Maria) perambulou por um tempo, então ela desgraçadamente deu à luz Jesus

Foto reproduzindo como seria a família de Jesus, segundo a versão judaica.


um filho ilegítimo, que tendo trabalhado como servo no Egito, em virtude da sua pobreza, adquiriu alguns poderes miraculosos, dos quais os egípcios se orgulham muito retornou ao seu próprio país, altamente entusiasmado por causa deles, e por meio destes poderes proclamou-se um deus”   Esta última versão é a que é mencionada no mesmo tratado Shabbat 104b, durante uma discussão sobre a permissão ou a proibição de se escrever durante o dia do Sabá. Jesus (Yeshu) é mencionado com um exemplo de quem desrespeitou esta proibição. “Mas, ben Satra (Stada) não aprendeu apenas de tal modo”? Ou seja, ele não usou tatuagens sobre seu corpo como uma ajuda para facilitar a aprendizagem (do Nome Inefável), por isso não eram elas (as tatuagens) claramente letras e por isso proibidas de serem escritas no Sabá? Mais adiante Jesus é ofendido da seguinte maneira: “Mas, ben Stada (Jesus) não trouxe bruxaria do Egito por meio de tatuagem sobre sua pele”? Daí três rabinos desconsideraram esta objeção com o contra-argumento de que ben Stada (Jesus) era um tolo, e que eles (os rabinos) não deixariam que o comportamento de um tolo influenciasse a implantação das leis do Sabá”  


Jesus como um Discípulo Inconveniente


Outra menção de Jesus (Yeshu) no Talmude Babilônico aparece no Tratado Senhedrin 103a, em uma passagem comentando um verso dos Salmos (91.10): “… nenhuma praga aproximará a sua tenda; que você não tenha um filho que publicamente estraga a sua comida, tal como Jesus o Nazareno  .

Peter Schäfer explica que a frase “estragar a sua comida” se refere a uma frase idiomática da época que significava “cometer uma ação inconveniente” (idem: 27). Então, Jesus é aqui citado como um exemplo de alguém que cometeu uma ação inconveniente.


Jesus Hostilizado pelo seu Próprio Mestre

Em outro episódio no Tratado Sotah 47a, ainda mais estanho aos textos canônicos e apócrifos, Jesus é excomungado pelo seu mestre (Yehoshua b. Perahya), quando ambos estavam em uma hospedaria e o mestre se sentiu atraído pela beleza da estalajadeira: “Ele (Yehoshua b. Perahya) levantou-se, saiu e encontrava-se em uma certa hospedaria. Eles (os hóspedes e os funcionários) prestaram-lhe grande respeito. Ele disse: “Como esta estalajadeira é bonita”! Ele (Jesus) disse: “Mestre, os olhos dela estão lacrimejantes”. Ele (Yehoshua b. Perahya) respondeu: “Você, discípulo perverso, você se ocupa com tal pensamento? Então, ele emitiu 400 sopros de shofar e o excomungou. Ele (Jesus) esteve diante do mestre diversas vezes e ele dizia: “Receba-me”, mas ele (Yehoshua b. Perahya) recusava dar-lhe atenção. Um dia, enquanto o mestre estava recitando a Shemá,  ele (Jesus) veio até ele (o mestre). Desta vez, ele (Yehoshua b. Perahya) desejou recebê-lo e fez um sinal para ele (Jesus) com a mão. Mas, ele (Jesus) pensou que ele (o mestre) queria dispensá-lo novamente. Ele (Jesus) saiu, arrumou um tijolo e o adorou. Ele (Yehoshua b. Perahya) disse a ele (Jesus): “Arrependa”, mas Jesus respondeu a ele: “Assim eu aprendi com você: quem quer que peca ou faça os outros pecarem é privado do poder de fazer penitência”. O mestre disse: “Jesus o Nazareno praticou magia, enganou e conduziu o povo de Israel ao erro”  

Tal como podemos perceber acima, é nítida a intenção dos rabinos de depreciarem o papel de Jesus como discípulo, bem como o de ridicularizarem a competência de Yehoshua b. Perahya como mestre.


A Execução de Jesus

Muito diferente da versão canônica, cuja morte de Jesus aconteceu na cruz, a versão do Talmude Babilônico relata que ele foi inicialmente dependurado e, em seguida, um arauto saiu anunciando, 40 dias antes, a sua execução por apedrejamento. Portanto, ao invés de ser crucificado, Jesus foi primeiro dependurado, para depois ser apedrejado até a morte. O relato aparece no Tratado Sanhedrin 43a: “Na véspera do Sabá, a véspera da Páscoa, Jesus o Nazareno foi dependurado (tela’uhu). E um arauto saiu 40 dias antes anunciando: ‘Jesus o Nazareno será apedrejado porque ele praticou feitiçaria (kishshef), instigou (hissit) e seduziu (hiddiah) Israel à idolatria. Quem quer que saiba de alguma coisa em sua defesa, que venha e a declare’. Mas, uma vez que eles não encontraram alguma coisa em sua defesa, eles o dependuraram na véspera do Sabá, a véspera da Páscoa. Ulla disse; ‘Você supõe que Jesus o Nazareno foi alguém por quem uma defesa deveria ser feita’? Ele foi um mesit (alguém que instigou Israel à idolatria), com relação a quem o Deus Misericordioso diz: ‘Não mostre compaixão por ele e não o proteja’ (Deuteronômio, 13.09). Com Jesus o Nazareno foi diferente, pois ele era próximo ao governo”  


Página de um manuscrito do Talmude com trechos apagados pela censura


Novamente, a menção de Jesus (Yeshu) acontece no meio de uma discussão, desta vez, sobre o procedimento da execução de um condenado, como um exemplo de como o rito de execução deve ser executado. P. Schäfer explica que a frase final “Com Jesus o Nazareno foi diferente, pois ele era próximo ao governo”, significa que os judeus tomaram as mais cuidadosas precauções, pois Jesus tinha amigos no alto escalão do governo, talvez uma referência ao interesse da esposa de Pôncio Pilatos pelas informações vindas do povo de que Jesus realizava milagres.
Este episódio talmúdico deixa clara a reação dos rabinos à alegação dos cristãos de que Jesus foi acusado por falsas testemunhas e que não teve tempo de se defender, por isso a introdução do personagem do arauto com seu anúncio da execução com 40 dias de antecedência.

  
Os Discípulos de Jesus

Muito diferente dos evangelhos canônicos que enumeram doze discípulos principais de Jesus (Mt, 10.01-4; Mc, 03.13-9 e Lc, 06.12-6), o Talmude Babilônico, no tratado Sanhedrin 43a-b, enumera apenas cinco discípulos. A passagem diz: “Nossos rabinos ensinaram, Jesus o Nazareno teve cinco discípulos, eles são: Mattai, Maqqai, Netzer, Buni e Todah”. Note que, exceto o nome Mattai, o qual se assemelha ao nome Mateus, os demais não têm semelhança com os nomes dos apóstolos mencionados nos evangelhos. Ademais, esta passagem informa que os cinco discípulos morreram juntamente com Jesus. Talvez uma tentativa de desmentir a versão canônica de que eles testemunharam a ressurreição de Jesus após a morte e, consequentemente, com isso colocar em dúvida a ocorrência deste fenômeno.
Jesus no Inferno ao invés do Céu

Em uma passagem bizarra, Jesus é mencionado no Talmude Babilônico, como um dos três maiores vilões da história judaica, juntamente com Tito, o destruidor do Segundo Templo, e com Balaão, o profeta das nações. Todos três estão no inferno, onde estão cumprindo punição por seus malfeitos. A base da história e a passagem na Mishná, que lista aqueles terríveis pecadores que não têm mais chance na vida futura. O interlocutor é Onqelos, um personagem que estava diante de se converter ao Judaísmo. Depois de entrevistar Tito e Balaão, “ele (Onqelos) foi e trouxe Jesus o Nazareno (Yeshu ha-notzri) de sua sepultura através da necromancia e lhe perguntou: Quem é importante naquele mundo (no inferno)? Ele (Jesus) respondeu: Israel.
Onqelos: Então, que tal juntar-se a ele?
Jesus: Busque o bem-estar deles, não busque o mal deles. Quem quer que os toque, é como se tocasse a pupila de deus.
Onqelos: Qual a sua punição?
Jesus: Com excremento fervendo.
Pois o mestre disse: Quem quer que zombe das palavras do mestre é punido com excremento fervendo. Venha e veja a diferença entre os pecadores de Israel e os profetas das nações gentis” 
A conversa é muito estranha, Jesus já está morto, sofrendo punição no inferno e é trazido de sua sepultura, através de magia, a fim de responder algumas perguntas. A intenção de ridicularizar Jesus é clara, ele é punido com excremento fervendo. Ademais, a pretensão de desmentir a ocorrência da ressurreição é implícita, pois, ao invés de ressuscitar e de subir ao céu em seguida, ele está no inferno, cumprindo punição. As explicações sobre esta passagem  são também confusas 


Considerações Finais

Tal como na coleção do Sefer Toledoth Yeshu, as menções de Jesus no Talmude Babilônico também têm pouco valor histórico, visto que elas se ocupam mais da natureza da afronta e da polêmica contra o fundador de uma seita odiada, do que de relatos objetivos de credibilidade histórica, portanto estes relatos não são documentos históricos. Dizer assim não significa que toda credibilidade história deve então ser atribuída aos textos canônicos ou, muito menos, aos apócrifos. Estes também não são documentos históricos, senão veículos de um incipiente programa catequético destinado a exaltar Jesus, através da composição de narrativas que combinavam fatos e ficções, juntamente com o objetivo de persuadir e de arrebanhar seguidores nos primeiros anos do crescimento da seita cristã. Portanto, estão mais para textos catequéticos do que para textos documentários.

O valor histórico que estas menções hostis nos deixam é o de conhecer o grau de rivalidade sectária que envolve a relação entre as religiões. Ou seja, o que uma religião é capaz de inventar a fim de depreciar o fundador de uma religião rival. Em contrapartida, os cristãos fizeram muito pior com os judeus durante a Idade Média.

Diante de tanta animosidade e de tanta rivalidade nos momentos de surgimento e de crescimento inicial das religiões, os historiadores ficam impossibilitados de saber o que é fato, ou o que é exaltação, ou o que é manipulação ou o que é refutação, ou o que é reelaboração no momento da composição ou da compilação dos textos de cada corrente. 
No atual estágio dos estudos históricos sobre Jesus, o que é possível afirmar, com certa segurança, é que, de todas as narrativas, os textos canônicos são os que carregam o maior número de sinais mais próximos da historicidade, apenas isto, em comparação com as narrativas apócrifas, talmúdicas, mesmo assim, longe de ser um relato inteiramente histórico, vigora consenso entre os estudos históricos mais rigorosos que o Novo Testamento, estritamente falando, reproduz uma intrincada combinação de história e mito, tal como o restante da Bíblia. Portanto, a grande tarefa dos historiadores bíblicos tem sido, desde muitos anos, identificar o que fato e o que é mito na narrativa bíblica.

Enfim, para concluir, descredenciar as menções anticristãs como providas de historicidade não significa credenciar automaticamente os textos canônicos com validade histórica, pois todos os lados tinham os seus motivos para deformar a história no momento da composição.

 


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A Bíblia não trata da criação da Terra nem do Universo, defende o pesquisador Osvaldo Luiz Ribeiro


 


O livro “Gênesis 1” não trata da criação do planeta Terra, muito menos do Universo. Para o professor e doutor em teologia Osvaldo Luiz Ribeiro, o entendimento teológico geral a respeito desse texto confere-lhe sentidos distanciados de seus contextos originais. Ribeiro mantém, no YouTube, o canal A Tenda do Necromante, que é dedicado à leitura histórico-social da Bíblia Hebraica e do Novo Testamento. Ele foi o convidado do InterD – ciência e cultura, desta quarta (29)
Osvaldo Luiz Ribeiro é um especialista em leitura histórico-crítica da Bíblia e divulgação científica em seu canal do YouTube, a Tenda do Necromante. Ele é Doutor em Ciências da Religião e graduado em Teologia, sendo professor de Teologia e Ciências das Religiões em uma faculdade em Vitória. Ele também fala sobre sua trajetória de desconversão do fundamentalismo batista e como sua demissão de um seminário pode ter sido decisiva para isso.

Professor Osvaldo, você pode nos contar sobre sua formação e trajetória profissional?

Claro! Eu tenho dois empregos principais. Um deles é o canal “A Tenda do Necromante”, onde faço divulgação de crítica bíblica e científica. O nome é uma metáfora, pois minha especialidade é a leitura histórico-crítica da Bíblia. O outro emprego é como professor de teologia e ciências das religiões em um curso de pós-graduação em Vitória. Tenho doutorado em ciências da religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora, e minha pesquisa focou na Bíblia.

Eu me tornei Batista em 1984, aos 18 anos, e fui para o seminário em 1987. Após vários anos de fundamentalismo, minha visão começou a mudar, especialmente enquanto eu ensinava no seminário. Fui demitido em 2010, acusado de heresia, e desde então não frequento mais templos religiosos, embora continue lecionando sobre teologia e Bíblia.

Você menciona que a Bíblia não trata da criação da Terra e do universo. Pode explicar essa afirmação?

Sim, essa é uma questão central na minha pesquisa. O livro de Gênesis, especialmente o primeiro capítulo, não se refere à criação do planeta Terra ou do universo, mas sim a uma criação que é local e específica. Esta ideia é frequentemente mal interpretada por séculos de tradições que leem a Bíblia de maneira literal e anacrônica.

Por exemplo, a palavra “terra” no contexto hebraico da época não se referia ao planeta como conhecemos hoje. A visão de mundo dos antigos hebreus era muito diferente, e eles não tinham a concepção de um planeta esférico. Em vez disso, eles viam a Terra como uma plataforma fixa, com o céu sendo uma cúpula sobre ela.

Quais são os principais elementos que sustentam essa interpretação?

Primeiro, minha pesquisa de doutorado, que foi realizada sob orientação de especialistas reconhecidos. Segundo, a interpretação do hebraico original. Por exemplo, a palavra “raquia”, que é frequentemente traduzida como “céu”, realmente se refere a uma cúpula, não ao universo. Terceiro, a análise de textos contemporâneos de outras culturas antigas, como a babilônica e a egípcia, mostra que a criação era vista como um ato local.

Esses pontos demonstram que a criação mencionada em Gênesis não se estende ao universo, mas sim à criação de um espaço habitável para o povo de Judá. O que muitos não percebem é que a Bíblia é um texto que reflete a sociedade e a cultura de seu tempo.

Como você vê a relação entre a ciência e a religião nesse contexto?

A relação entre ciência e religião é complexa. Muitos religiosos tentam encaixar descobertas científicas dentro de uma leitura literal da Bíblia, o que muitas vezes leva a conflitos. Por exemplo, a ideia de um dilúvio universal é uma interpretação que ignora evidências científicas sobre a geologia e a história da Terra.

É importante que as pessoas compreendam que a Bíblia não é um manual científico. Ela deve ser lida dentro de seu contexto histórico e cultural, e não como uma descrição literal da realidade física que conhecemos hoje.

Você acredita que há uma falta de compreensão bíblica entre os cristãos hoje? Se sim, por quê?

Definitivamente. A maioria dos cristãos, especialmente os evangélicos, não compreende a Bíblia de maneira profunda. Isso se deve a uma educação religiosa que muitas vezes não promove um entendimento crítico e contextualizado dos textos bíblicos. Além disso, a formação educacional geral no Brasil também é deficiente, resultando em analfabetismo funcional.

As pessoas são treinadas para interpretar versículos de acordo com a doutrina de suas denominações, o que limita sua capacidade de entender o texto em sua plenitude. Isso é preocupante, pois a leitura crítica e a compreensão histórica são essenciais para uma cidadania consciente e informada.

Quais são suas recomendações para melhorar a compreensão bíblica entre os cristãos?

Minha recomendação é que as pessoas busquem uma educação teológica mais rigorosa e crítica. Ler a Bíblia em seu idioma original, estudar a história e a cultura da época em que foi escrita, e entender os contextos sociais e políticos que influenciaram os textos são passos fundamentais. Além disso, é importante promover debates abertos e respeitosos sobre a interpretação bíblica.

Encorajo todos a questionar suas crenças e buscar um entendimento mais profundo, não apenas da Bíblia, mas também do mundo ao seu redor. A crítica e a reflexão são essenciais para o crescimento pessoal e espiritual.

Professor Osvaldo, muito obrigado por compartilhar seu conhecimento e experiências conosco!

Eu que agradeço a oportunidade de discutir esses temas tão importantes. Espero que esta conversa inspire outros a explorar a Bíblia de maneira mais crítica e a refletir sobre o papel da religião e da ciência em nossas vidas.

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A Cosmogonia de Inauguração do Templo de Jerusalém - PDF baixar




Tese apresentada ao programa de Pós-Graduação em Teologia da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Teologia Bíblica

Graduou-se em Teologia (Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil/STBSB – Faculdade Batista do Rio de Janeiro/FABAT) em 1992, e cursou o Mestrado em Teologia (STBSB/FABAT) em 2002. É professor de Epistemologia, Hermenêutica e Exegese do Antigo Testamento na FABAT. Foi Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Teologia do STBSB/FABAT. Pesquisa os textos da Bíblia Hebraica relacionados aos séculos VI e V. 


Osvaldo Luiz Ribeiro  

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A Grande História Da Evolução - Richard Dawkins. PDF Baixar


 


A grande história da evolução é uma peregrinação ao longo da ár­ vore genealógica da vida. Partindo de onde estamos hoje, passamos por quarenta entroncamentos onde nos deparamos com ancestrais e peregrinos que vêm de outros ra­ mos. O ponto de chegada situa-se há 4 bilhões de anos, na origem da vida. Ao longo do trajeto, peregrinos contam suas histórias e descorti­ nam as maravilhas da diversidade biológica que habita este planeta e os mistérios da evolução que ainda hoje desafiam biólogos. O humano ancestral "Little Foot" investiga como surgiu a possibilidade de an­ darmos sobre dois pés; o gibão ajuda a entender por que não temos que fazer calças com um furo para a cauda; o camundongo deixa claro que o que torna um organismo diferente do outro não são exatamente os genes, mas como sua atividade é regulada; castores explicam o conceito de fenótipo estendido, em que a re­ presa é uma extensão do próprio castor; e o gafanhoto discute se existem raças. A paisagem que se descortina durante a viagem expõe uma amos­ tra da diversidade da natureza e também explora como entendê-la. O leitor chega ao fim do percurso maravilhado e enriquecido com novas ideias e reflexões. Uma enci­ clopédia da vida para se ler, reler e consultar.

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As polêmicas de Richard Dawkins


 


No segundo programa do Milenio especial, o evolucionista britanico Richard Dawkins defende a atualidade da teoria darwiniana.

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Discussões com Richard Dawkins: Os Quatro Cavaleiro - Legendado


 


As discussões com Richard Dawkins, parte do grupo chamado "Os Quatro Cavaleiros", referem-se às conversas sobre ateísmo com Daniel Dennett, Sam Harris e o falecido Christopher Hitchens. Esse grupo se destacou pela crítica ao fanatismo religioso e pela promoção da razão, especialmente após os ataques de 11 de setembro. As discussões abordam temas como a natureza da religião, a ética, o papel da fé e os argumentos contra a existência de Deus.