TÁCITO
Públio Caio Cornélio Tácito nasceu no ano 55 E.C. e morreu em 120 E.C. Foi historiador romano, questor, pretor, cônsul e procônsul da Ásia, além de um grande orador. Ufa! O cara foi tudo. Se dessem oportunidade, ele teria sido até mesmo imperador. Ele é considerado um dos maiores historiadores da Antiguidade. Suas obras principais foram “Anais” e “Histórias”, que tinham por tema, respectivamente, a história do Império Romano no primeiro século, desde a chegada ao poder do imperador Tibério até à morte de Nero e da morte de Nero à de Domiciano.
A obra de Tácito passou por altos e baixos. Considerando que o declínio da literatura latina no final do século II causou um certo “esquecimento” a respeito do autor e sua obra, autor este que acaba sendo redescoberto apenas na Antiguidade Tardia, quando o grego Amiano Marcelino inspirou-se nele para escrever uma história da sua própria época no idioma latino.
No começo da Idade Média, sua obra voltou a cair no esquecimento, para só readquirir notoriedade durante a Renascença, que marcou o fim dessa Era. Assim, em consequência destas idas e vindas, os textos maiores de Tácito chegaram muito fragmentados, de forma tal que os “Anais”, tais como podemos lê-los hoje, contém apenas a descrição de parte do reinado de Tibério – a descrição do reinado de Calígula estando totalmente perdida – parte do de Cláudio, e a maior parte do de Nero – estando também perdida a conclusão da obra. Quanto às “Histórias”, seu texto preservado contém basicamente a narrativa da guerra civil do ano 69 E.C., que levou à ascensão do amiguinho de Josefo, Vespasiano, ao trono imperial.
Não se pode precisar se o que restou é relato fidedigno, mediante o texto original de Tácito. E não precisa ter carteirinha de cético para duvidar da autenticidade total dos relatos que sobreviveram até os dias de hoje. Nos “Anais”, há outra passagem curta que fala de “Christus” como sendo o fundador de um partido chamado “os cristãos” – um grupo de pessoas “que foram anatemizadas por seus crimes”. Estas palavras aparecem no relato de Tácito sobre o Incêndio de Roma. A evidência para esta passagem não é muito mais forte que para as passagem de Josefo.
Não foi citado por qualquer escritor antes do século XV; e quando foi citado, havia só uma (sim, UMA) cópia dos “Anais” no mundo; e era suposto que aquela cópia tinha sido feita no oitavo século – seiscentos anos depois da morte de Tácito! Os “Anais” foram publicados entre 115 e 117 E.C., quase um século depois do tempo de Jesus – assim a passagem, mesmo que fosse genuína, não provaria nada de nada sobre Jesus.
“Nero, sem armar grande ruído, submeteu a processos e a penas extraordinárias aos que o vulgo chamava de cristãos, por causa do ódio que sentiam por suas atrapalhadas. O autor fora Cristo, a quem, no reinado de Tibério, Pôncio Pilatos supliciara. Apenas reprimida essa perniciosa superstição, fez novamente das suas, não só na Judéia, de onde proviera todo o mal, senão na própria Roma, para onde de confluíram de todos os pontos os sectários, fazendo coisas as mais audazes e vergonhosas. Pela confissão dos presos e pelo juízo popular, viu-se tratar-se de incendiários professando um ódio mortal ao gênero humano”.
Como podem observar, Tácito não afirma que houve um Jesus Milagreiro na Palestina. Ele fala de um arrastão de seguidores de Cristo (esse “Cristo” não é um nome próprio e sim um título). Alega o texto que Nero promoveu uma espécie de pogrom, culpando os cristãos pelo incêndio de Roma, ocorrido em 18 de julho do ano 64 E.C. O mais interessante é que não havia "cristãos" lá nessa época. Os seguidores de Jesus se davam muitas denominações, mas nenhuma era "cristãos". Os primeiros seguidores de Cristo se chamavam "santos", "irmãos", "Irmãos do Senhor", "Irmãos em Cristo" etc., como pode-se ver nas epístolas paulinas. Havia um sem-número de diferentes denominações, cada uma com uma teologia própria, como ebionitas, marcionitas, adocetistas etc. "Cristão" é uma denominação, historicamente falando, bem recente.
Examinando mais detidamente, vemos coisas bizarras nos textos mais antigos, já que não havia menção de "cristãos" (coisa que eu demonstrei não ser possível), mas de crestinianos. O dr Erik Zara submeteu o pergaminho a análises e os resultados foram que o texto foi adulterado, de "crestinianos" para "cristãos". Vocês podem ler o seu trabalho num artigo em PDF.
O texto de Cornélio Tácito, mesmo que seja levado em consideração, afirma unicamente a existência de cristãos, membros seguidores do que ele chama literalmente de “perniciosa superstição”. Logo, mesmo que Tácito tenha se referido a Jesus, ele não acreditou que o talzinho era filho de deus nenhum. Superstição é superstição, e não passa de algo semelhante ao culto a um trevo de quatro folhas ou dar sete pulinhos sobre as ondas na virada do ano. Afirmar uma existência de Jesus Cristo com base na existência de cristãos é a mesma coisa que dizer que Vishnu, Brahma e Shiva existem pois existem muitos hindus no mundo. Isso serve como argumento para provar que os orixás africanos, deuses maias, divindades persas, youkais japoneses e toda a imensa gama de seres sobrenaturais e supranaturais de todas as religiões do mundo também existem. Logo, todos os deuses romanos mencionados pelo próprio Tácito também existem e, segundo o próprio texto, ESTES são os deuses verdadeiros e o cristianismo não passa de superstição.
No referido texto, Tácito concluiu que eles, os cristãos, não passaram de terroristas que odiavam Roma. Um argumento bem semelhante ao que se fala dos Palestinos nos dias de hoje. Tanto a “verdade” na qual os Palestinos se baseiam, quanto à “verdade” dos arruaceiros descritos por Tácito não são muito diferentes dos contos da carochinha. O que Tácito falou a respeito de Jesus ou, como ele mesmo disse, Christus? Nada. Portanto, como dizer que este texto é um relato extra-bíblico que prova a historicidade de Jesus?
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