Se quando morrem, crentes morrem em
Deus, não deveriam suas famílias rejubilar,
ao invés de lamentar? Em vez de agradecer
a Deus, não deveriam os crentes que sobrevivem
a uma calamidade ficar decepcionados,
até indignados, por não os ter tomado
para si? Afinal, não só continuam suscetíveis
a sofrimentos como também a tentações
que podem causar sua perdição. Se os
que morreram foram libertos das aflições
do mundo e levados ao Paraíso, não teriam
sido favorecidos e os sobreviventes discriminados?
Como agradecer a Deus pelo salvamento,
em face de tantas mortes e tamanha
dor? O que dizer dos traumas psicológicos das crianças que perdem seus pais em
tragédias? E o que pensa um crente que sobreviveu,
mas ficou com terríveis sequelas?
Se salvá-lo foi fazê-lo sofrer, não teria Deus
cometido uma maldade?
Uma chuva forte pode fazer uma cidade
como São Paulo parar. Quando um avião
cai, às vezes vemos na TV alguns passageiros
agradecerem a Deus por terem chegado
tarde e perdido o voo. Se Deus enviou chuva
especificamente para impedir alguns de
embarcar, é a mesma que causou a queda
de árvores, de energia, deslizamentos de
terra, inundou casas, provocou acidentes de
trânsito e acarretou a morte de pacientes
em ambulâncias que, por terem ficado presas
no engarrafamento, não conseguiram
chegar a tempo no hospital.
No que tange a doenças, crer no deus bíblico
não torna pessoa alguma imune sequer
a simples resfriados, muito menos a
tumores. Quando um membro de igreja
tem câncer, a congregação inteira ora por
ele. Se ela for grande, são centenas ou milhares
de orações por semana. Em vão.
Caso o câncer não seja tratado ou, mesmo
que em tratamento, esteja em estado avançado, “a oração feita com fé” não “curará o
doente e o Senhor” não “o levantará”.
Não passa pela cabeça dos crentes que se
Deus atende às orações de alguns e os protege
ou cura, é um deus injusto. Para ser
justo, teria de atender ou a todas as orações
ou a nenhuma. Se eu tivesse câncer, fosse
curado e atribuísse a cura a Deus, como
poderia eu ser-lhe agradecido sabendo que,
todo ano, ele deixa dez milhões de pessoas,
incluindo crianças, primeiro sofrerem por
meses, depois morrerem dessa doença?
Se
um pai cristão ou muçulmano e seu filho tiverem
câncer, implorarem a Deus para serem
curados, o pai for curado, mas o filho
não, conseguirá o pai se alegrar com sua
cura? Se o pai acredita que Deus levou seu
filho para o Céu, não se perguntará por que
o deixou agonizar, e por tanto tempo?
Se fosse verdade que a oração salva o doente,
como diz a Bíblia, cristãos não teriam
necessidade alguma de médicos, medicamentos
e hospitais.
A realidade é que se um crente pegar
uma mera gripe, nem a súplica mais fervorosa
do presidente mundial de sua denominação
fará as dores musculares, de garganta, de cabeça, os espirros, a coriza e a tosse
desaparecerem. Mesmo orando, o fiel terá
de esperar uma semana para se sentir melhor.
Se um cristão torcer o pé, preces não
evitarão a dor intensa e a inflamação do
tornozelo. Ainda que prometa a Deus dedicar
o resto de sua vida à evangelização do
mundo, o crente ficará vários dias sem poder
andar e demorará semanas até que seu
pé volte ao normal.
Não obstante parecer
uma lesão simples, sem acompanhamento
médico uma entorse de tornozelo pode deixar
sequelas.
Se Deus não cura as enfermidades simples,
por que haveria de curar as graves?
Além disso, é teologia da própria Bíblia que
nada pode acontecer sem Deus permitir.
Por que, então, haveria de curar pessoas
das doenças que permitiu? Uma divindade
assim sofre de severo transtorno dissociativo
de identidade. Pior: quem acredita que
Deus cura acredita num deus sádico, pois
se cura doentes, mas não extingue as doenças,
usa-as para coagir os seres humanos a
adorá-lo. Pior ainda: um deus que cura só
quem lhe implora é um deus perverso. A
propósito, se cura vem de Deus, ateus curados de câncer são prova de que não é necessário
nele crer para por ele ser curado.
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