Paraíso, proteção, cura e prosperidade são produtos vendidos pelas religiões, e em nenhuma são comercializados com tanto sucesso quanto na cristã. Seguir o Cristianismo é comprar o que ele tem para vender. Não conheço igreja que não associe dízimos e ofertas a bênçãos divinas. Afinal, isso é doutrina bíblica. Ao pedir aos cristãos de Corinto contribuições financeiras para crentes pobres na Judeia, o apóstolo Paulo não se limita a dizer: “Pessoal, nossos irmãos em Jerusalém estão precisando da ajuda de vocês”. Pelo visto, isso não teria sido suficiente para motivar os coríntios a doar. Tanto assim que Paulo gasta dois capítulos inteiros da Bíblia com considerações sobre a importância de dar ofertas. Ao que parece, também isso não teria bastado, pois a certa altura parte para a apelação e promete recompensas divinas aos doadores. Descaradamente, Paulo afirma que “aquele que semeia pouco, também colherá pouco, e aquele que semeia com fartura, também colherá fartamente” e não se envergonha de dizer que “Deus ama quem dá com alegria” (2 Coríntios 9:6-7). Depois dessa, que cristão ousaria não abrir a carteira?
Solicitar ajuda financeira para irmãos na
fé evidencia que nem a maior figura do
Cristianismo confiava nas promessas bíblicas
de amparo divino, como a que foi dada
por intermédio de Salomão, o homem mais
abençoado da Terra: “O Senhor não deixa o
justo passar fome” (Provérbios 10:3).
É inegável que o livro da capa preta vincula
favores divinos à fidelidade nos dízimos
e generosidade nas ofertas.
Quando compramos um produto ou pagamos por
um serviço, sabemos exatamente o que receberemos.
Se não o recebemos, ou não estamos
satisfeitos, é natural nos decepcionarmos,
e temos o direito de reclamar. Com
as inúmeras promessas bíblicas de proteção,
livramento, cura e prosperidade, não é
assim. Não importa quão fiéis e generosos
sejam, não há como os adoradores do deus
da Bíblia saberem se ele cumprirá sua parte
do acordo, muito menos como dele exigirem
que a cumpra. Pior: se não concede o
que pedem, a culpa não é de Deus, mas deles.
Talvez não estejam sendo suficientemente
fiéis. Talvez estejam precisando
duma lição. Seja o que for, Deus nunca é
responsabilizado, pois é bom e “sabe o que
faz”.
No intento de explicar por que não recebem
o que pedem, é comum crentes dizerem
frases do tipo “Deus não tem obrigação
de atender a pedidos”. Sem embargo, várias
passagens bíblicas deixam claro que isso
não é verdade, como 2 Crônicas 7:14: “Se o
meu povo […] se humilhar e orar, buscar a
minha face e se afastar dos seus maus caminhos,
dos céus o ouvirei […] e curarei a sua terra”. Como se vê, Deus fez um pacto
com seus cultuadores: “Se vocês fizerem o
que eu lhes peço, faço o que vocês me pedem”.
A mesma coisa é ensinada pelo Novo
Testamento: “Sabemos que Deus não ouve
pecadores, mas ouve o homem que o teme e
pratica a sua vontade” (João 9:31) e “Se
dois de vocês concordarem na terra em
qualquer assunto sobre o qual pedirem,
isso lhes será feito por meu Pai que está nos
céus” (Mateus 18:19). Além do mais, “Deus
não é homem para que minta […]. Acaso
promete, e deixa de cumprir?” (Números
23:19).
Não se deve olvidar que o deus bíblico é
chamado de pai. O melhor exemplo disso é
a oração do Pai Nosso. Isso não é assim por
acaso.
Tradicionalmente, o papel do pai é
sobretudo proteger, e proteção é o que
crentes mais esperam duma divindade.
Muitas pessoas têm dificuldade em conceber
que o Universo possa não ter sido criado.
Todavia, imaginar que existe um Criador,
mas que é indiferente, não se importa
com suas criaturas, é para elas muito mais
difícil. Na verdade, insuportável. Contudo,
a ideia dum Criador que intervém em sua criação condiz com a realidade? É isso o
que se observa? Ele protege mesmo quem o
chama de pai?
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