A religião sequestrou a moral. Não há dúvidas de que todas as religiões se autoproclamaram guardiãs da moral da sociedade e se nomearam como embaixadoras de seu deus para ditá-la ao mundo. Sob a desculpa da onissapiência e perfeição de Deus, blindaram seus postulados morais de infalíveis e perfeitos; e a maioria das pessoas assim acreditou sem questioná-los.
Mostra disso são as declarações do Cardeal peruano e membro da Opus Dei, Juan Luis Cipriani Thorne, que em novembro de 2005 afirmou:
• “Há aqueles que aceitam a realidade do pecado e aqueles que não aceitam. Não é um problema de tolerância, democracia e nem de pluralismo. É a fé que me diz: aceito a revelação, a palavra de Deus, o ensinamento da Igreja Católica . Por outro lado, encontramos aqueles que querem validar o pecado com uma forma de pluralidade, de tolerância, com uma expressão do mundo moderno. Por quê? Porque lhes falta aceitar com humildade que nós cometemos pecados e isso não é bom. Aí está o ponto corte “.
Não obstante o autoconvencimento do Cardeal Cipriani, nem ele nem clérigo algum poderá dizer que suas opiniões sobre moralidade estão baseadas em um claro, audível e público mandato do deus em que creem. NUNCA APRESENTARAM DIVINDADE ALGUMA DE FORMA PÚBLICA E AUDÍVEL DIANTE DE TODA A HUMANIDADE, DANDO DECLARAÇÕES RELATIVAS À MORAL SEXUAL E REPRODUTIVA, À EUTANÁSIA, AO ABORTO TERAPÊUTICO E DEMAIS TEMAS POLÊMICOS. A Cipriani assim como aos demais cristãos só lhes resta recorrer à Bíblia, que chamam palavra de Deus, como fonte da moralidade.
Por isso que devemos revisar se a Bíblia pode ser tomada como guia moral para uma sociedade moderna. Muitos cristãos começariam com os dez mandamentos que supostamente Moisés recebeu do próprio Yahveh. Se isso fosse verdade, os versículos de Êxodo 20 seriam palavras literais de Deus na Bíblia. Por isto católicos e protestantes dão grande importância aos dez mandamentos. Tal como exemplifica a declaração de Les Tohompson, pastor evangélico de Miami em uma entrevista em 2008:
• “Grande parte da decadência do mundo de hoje, tem a ver com o fato da igreja ter deixado de estudar os Dez Mandamentos e é muito raro que sejam mencionados em nossos púlpitos. Isto indica uma falha imperdoável. Não compreendemos a universalidade da lei de Deus. Onde se determina o bom e o mau? A melhor fonte se encontra nos Dez Mandamentos.”
É preciso esclarecer que:
Os dez mandamentos do catecismo católico não são os mesmos que aparecem na Bíblia em Êxodo 20: 1- 17.
Que não existe nenhuma lista de “dez” mandamentos específicos na bíblia, mas mais de 600 mandamentos.
Que existem outras duas listas diferentes dos “dez” mandamentos em Deuteronômio 5:6-22 e em Êxodo 34:10-28.
Os quatro primeiros falam da veneração ao deus Yahvé (são mandamentos inúteis de idolatria, intolerância religiosa e não dizem nada sobre Jesus, nem sobre Trindade alguma!). Estes mandamentos são: Adorar só a Yavhé, não fazer imagens nem as adorar, não jurar em vão por Yahvé e guardar o Sábado. Deste primeiro grupo de normas causa especial interesse o segundo mandamento, no qual se proíbe adorar imagens:
Êxodo 20:4,5
Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque EU, O SENHOR TEU DEUS, SOU DEUS CIUMENTO , QUE VISITO A INIQUIDADE DOS PAIS NOS FILHOS, ATÉ A TERCEIRA E QUARTA GERAÇÃO DAQUELES QUE ME ODEIAM.
Que coisa é esta de Jeová ou Yahvé castigar os filhos, netos, bisnetos e tataranetos dos que o odeiam? É justo castigar uma descendência inocente pelas faltas de seus pais? Em Levítico 19:18 este mesmo deus desmemoriado adverte – EM OUTRO MANDAMENTO – contra a vingança:
Levítico 19:18
Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.
Claramente os dois textos mostram uma contradição moral no próprio Deus, porque em um manda não ser vingativo e em outro ameaça com vingança as gerações futuras dos que não o adorem. Mais além da simples contradição, o que mais assombra é que no próprio seio do decálogo se mostra semelhante exemplo de ciúmes e vingança, algo mais próprio de um clérigo fanático que de um deus de infinita bondade e misericórdia.
Os seis mandamentos seguintes não parecem nada melhores que os primeiros, pois mandam honrar os pais, não matar, não cometer adultério, não roubar, não mentir e não cobiçar os bens do próximo – INCLUINDO A MULHER COMO UM DESSES BENS DE PROPRIEDADE DO HOMEM. Muitos os tomam como absolutos morais, sem meio-termo. Mas o que acontece se for preciso mentir para salvar inocentes?
• Oskar Schilder criou um plano baseado em mentiras para salvar a vida de muitos judeus durante o regime nazista.
• Vários norte-americanos no século XIX, esconderam escravos que fugiam do Sul em sua caminhada para o norte dos EUA; e deviam mentir para salvá-los.
• Isto também são faltas morais?
Como é possível que um deus infinitamente sábio não tivesse previsto situações semelhantes e nada tenha dito a respeito? Acontece o mesmo com o mandamento “não matarás”.
• É imoral matar o atirador que de um telhado está matando pessoas?
• O decálogo maravilhoso de Yahvé nada diz sobre isto.
Porém, é curioso que o próprio Yahvé viola o sexto mandamento. Segundo a Bíblia, enquanto Jehová dava seu decálogo a Moisés, seu povo eleito fabricava um bezerro de ouro para adorar (Parece que para esses a abertura do Mar vermelho não foi prova suficiente da existência Yahvé). A Bíblia diz que Moisés desceu do monte Sinai e quebrou as tabuas escritas por Deus (ou por ele mesmo). Parece que se irritou porque enquanto estava inventando Yahvé, seus crentes já tinham inventado outro deus. Diante desse concorrente de ouro se acendeu a ira de “Yahvé” (ou Moisés).
Logo após destruir as tábuas escritas por Deus, onde dizia “Não matar”, Moisés diz que o Senhor disse:
Êxodo 32:27
E disse-lhes: Assim diz o Senhor Deus de Israel: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu vizinho.
Bem, o Senhor não tinha dito que não é bom matar? O assassinato é bom em alguns casos e em outros não? É algo relativo? Não é justamente o relativismo moral o que tanto criticam aas igrejas cristãs hoje em dia? A Igreja Católica fez do mandamento “não matarás” um mandamento absoluto e o levou ao extremo de considerar assassinato a morte de um óvulo fecundado ou desconectar um paciente com morte cerebral e que só sobrevive graças à assistência de máquinas.
Mas os adoradores do bezerro de ouro não foram os únicos que morreram por ordem de Jeová. No Pentateuco também se ordena matar os que não guardem o sábado – o que incluiria todos os católicos, de seguirmos a Bíblia ao pé da letra. Também manda matar todo aquele que cometa incesto, zoofilia, os que pratiquem adivinhação, as bruxas, os adoradores de outros deuses, os homossexuais masculinos – não diz nada sobre as lésbicas -, os filhos que amaldiçoem seus pais, os que convidem a adorar outro deus, a mulher que mentir que é virgem ao casar. Sobre este último, a Bíblia não estabelece nenhum castigo para os varões não virgens. Machismo? Sem dúvida.
Mas o mesmo deus que proibiu o assas permitiu o genocídio dos povos de Canaã para dar essa terra aos israelitas:
Deuteronômio 7:1-2
1 Quando o SENHOR teu Deus te houver introduzido na terra, à qual vais para a possuir, e tiver lançado fora muitas nações de diante de ti, os heteus, e os girgaseus, e os amorreus, e os cananeus, e os perizeus, e os heveus, e os jebuseus, sete nações mais numerosas e mais poderosas do que tu; 2 E o Senhor teu Deus as tiver dado diante de ti, para as ferir, TOTALMENTE AS DESTRUIRÁS; NÃO FARÁS COM ELAS ALIANÇA, NEM TERÁS PIEDADE DELAS;
No livro de Números capítulo 31 se narra o genocídio dos midianitas. Nesta história Moisés, por ordens do próprio deus que deu o decálogo, manda matar os midianitas, com exceção das mulheres virgens, as quais são tomadas como botim de guerra, junto com os metais preciosos e os animais.
Que lição para basear nossa moralidade podemos extrair desta passagem tão cheia de ódio, xenofobia e machismo?
Se o deus da Bíblia existisse deveria ser acusado de genocídio. Será que as “Testemunhas de Jeová” gostariam de testemunhar sobre as ações de seu deus no caso de um hipotético julgamento por genocídio?
No primeiro livro de Juízes se narra um ainda mais assustador. O profeta Samuel transmite ao rei Saul de Israel uma ordem de Jehová para arrasar com os amalequitas:
1 Samuel 15:1-3
Samuel disse a Saul: “Eu sou aquele a quem o Senhor enviou para ungi-lo como rei de Israel, o povo dele; por isso escute agora a mensagem do Senhor. 2 Assim diz o Senhor dos Exércitos: ‘CASTIGAREI OS AMALEQUITAS PELO QUE FIZERAM A ISRAEL, ATACANDO-OS QUANDO SAÍAM DO EGITO. 3 Agora vão, ataquem os amalequitas e consagrem ao SENHOR para destruição tudo o que lhes pertence. NÃO OS POUPEM; MATEM HOMENS, MULHERES, CRIANÇAS, RECÉM-NASCIDOS, BOIS, OVELHAS, CAMELOS E JUMENTOS’ “.
Coisa totalmente absurda e injusta porque várias gerações já tinham passado desde o Êxodo até esse momento. E por outra lado, que culpa têm as crianças de colo, as vacas, ovelhas, camelos e asnos? Bem, segundo Moisés, Deus jurou vingança contra os amalequitas de geração em geração (Êxodo 17:16).
• Este livro é o guia moral para a sociedade atual ou é fruto de um povo pouco civilizado, xenófobo e com parâmetros morais similares a outros povos da antiguidade?
Voltando aos mandamentos, é interessante analisar o décimo:
Êxodo 20:17
Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.
Que é isso de não cobiçar os escravos do próximo? Deus aprova a escravidão? Claro que sim. Na verdade, o capítulo seguinte ao decálogo contém as normas divinas que a regulamentam. E que negócio é esse de colocar a mulher como uma propriedade do homem, junto com bois e jumentos? Estas são as boas normas morais para a sociedade atual?
Muitos cristãos atuais ignoram que precisamente por fazer da Bíblia um guia moral os batistas do sul dos Estados Unidos defenderam a escravidão nos tempos de Lincoln com a mesma selvageria com que hoje tomam outros versículos do pentateuco para se oporem aos direitos civis para gays e lésbicas.
Si tomássemos a Bíblia ao pé da letra a escravidão estaria permitida, seria licito matar quem trabalhasse no sábado ou os hinduístas por adorar deuses diferentes de Yahvé.
Que sinal há na Bíblia de diretos humanos, como os conhecemos hoje?
Nenhum.
A Bíblia contém boas normas de senso comum copiadas de outros povos mais antigos, tais como “NÃO OPRIMIRÁS O TEU PRÓXIMO, NEM O ROUBARÁS; A PAGA DO DIARISTA NÃO FICARÁ CONTIGO ATÉ PELA MANHÃ. NÃO AMALDIÇOARÁS AO SURDO, NEM PORÁS TROPEÇO DIANTE DO CEGO; MAS TEMERÁS O TEU DEUS. EU SOU O SENHOR”. Levítico 19:13,14. Mas, também no mesmo capítulo condena: “NÃO CRUZEM DIFERENTES ESPÉCIES DE ANIMAIS. “NÃO PLANTEM DUAS ESPÉCIES DE SEMENTES NA SUA LAVOURA. “NÃO USEM ROUPAS FEITAS COM DOIS TIPOS DE TECIDO”. Levítico 19:19.
Em outros capítulos encontramos as proibições de aproximar-se do templo durante a menstruação e sobre comer sangue. Desta última prescrição os Testemunhas de Jeová inventaram sua objeção moral para aceitar as transfusões de sangue. Por que também não consideram algo mau cortar a barba, o que suas mulheres não anunciem quando estão menstruadas para não tornar “imundos” quem as tocar (Levítico 15:19)?
Muitos crentes não conhecem estes textos apesar de levar a Bíblia consigo todos os domingos, porque os pastores e sacerdotes selecionam para suas homilias, sermões, estudos bíblicos ou publicações, apenas alguns versículos bíblicos para ensiná-los como norma moral e omitem outros, esquecendo-os ou qualificando-os de alegóricos ou não válidos para a modernidade. Por quê? O deus Yhavé não disse: “NADA ACRESCENTEM ÀS PALAVRAS QUE EU LHES ORDENO E DELAS NADA RETIREM, MAS OBEDEÇAM AOS MANDAMENTOS DO SENHOR, O DEUS DE VOCÊS, QUE EU LHES ORDENO. Deuteronômio 4:2”? Por trás da seleção de só alguns versículos e historias bíblicas para exaltar como exemplos de moralidade, se esconde, sem dúvida, o critério e a interpretação humana. Por isso que, por exemplo, HOJE NENHUM CRISTÃO DEFENDE A ESCRAVIDÃO, MAS APONTA SEU DEDO PARA UM VERSÍCULO DO LEVÍTICO PARA CONDENAR A HOMOSSEXUALIDADE.
O Corão é a Mesma Merda
O Corão é um livro igual ou pior em intolerância, misoginia e violência. Este dá claramente a ordem de matar todos aqueeles que não creem que Alá é Deus e Maomé seu profeta. Denigre expressamente os judeus e pede seu extermínio. Um verso diz a respeito dos infiéis:
• Sura 2:191 Matai-os onde quer se os encontreis e expulsai-os de onde vos expulsaram, porque a perseguição é mais grave do que o homicídio. Não os combatais nas cercanias da Mesquita Sagrada, a menos que vos ataquem. Mas, se ali vos combaterem, matai-os. Tal será o castigo dos incrédulos.
Existem outros 108 versículos semelhantes a este, que pregam a guerra contra os não-muçulmanos.
No ano 627, Maomé e seu exército atacaram a cidade de Medina. A tribo judaica dos Banu Qurayza defendeu a cidade. Após a tomada da cidade e a rendição dos Banu Qurayza, os homens foram mortos e as mulheres e crianças vendidos como escravos. Pouco depois Maomé “recebeu” uma revelação que justificava seus atos. A Sura 33:28-29 trata deste incidente:
• 28 E (Deus) desalojou de suas fortalezas os adeptos do livro (judeus), que o (inimigo) apoiaram, e infundiu o terror em seus corações. matastes uma parte e capturastes outra. 29 E (depois disso) vos fez herdeiros de sua cidade, de suas casas, seus bens e das terras que nunca havíeis pisado (antes); sabei que deus é onipotente.
Maomé tomou por esposa uma menina de nove anos chamada Aisha, sendo sem dúvida um caso de pedofilia, que mostra o papel de subordinação que o islã dá à mulher. Definitivamente o profeta Maomé não é melhor exemplo de moralidade que o profeta Samuel ou que Moisés.
O problema atual dos fundamentalistas islâmicos não surge porque utilizam o Corão fora de contexto, como pensam alguns, MAS PRECISAMENTE PORQUE O OBEDECEM LITERALMENTE E O TRANSFORMARAM EM GUIA MORAL. Como vimos, a Bíblia também contém versículos que mandam executar os não-adoradores de Jeová ou os que não guardem o sábado, mas estas normas já não levam a perseguições, não por obra dos religiosos, mas apesar deles. A superação da perseguição religiosa se conseguiu graças ao humanismo derivado do Iluminismo e a subsequente declaração dos direitos humanos.
Uma reflexão de Albert Einstein sobre a moral humana:
“O comportamento ético de um homem deveria basear-se suficientemente na simpatia, na educação, nos laços e necessidades sociais; não é necessária nenhuma base religiosa. O homem estaria verdadeiramente em um caminho miserável se tivesse que ser reprimido por medo do castigo e pela esperança de uma recompensa depois da morte.”
0 comments:
Postar um comentário