Religião e dúvida são incompatíveis. Por isso, religiosos têm justificativas para cada uma das inúmeras incoerências e contradições de sua crença. Essas desculpas são ou-vidas e repetidas tantas vezes que, apesar de evidentemente insatisfatórias, eles as têm como plausíveis.
Quando questionamos, por exemplo, o motivo para Deus ma-tar os sacerdotes Nadabe e Abiú, ainda por cima de modo tão extremo, fazendo fogo cair do céu, judeus e cristãos respondem:“Porque Deus é amor, mas também justiça”. Quando não lhes é possível responder de maneira a ficarem eles mesmos satisfeitos, como frente à pergunta por que Deus não revela a um cientista devoto a fórmula para a cura do câncer, crentes recorrem à maior e mais vaga de todas as suas desculpas: “Quão insondáveis são os seus juízos e inescrutáveis os seus caminhos!” (Romanos 11:33), que não é outra caminhos senão um simples “Deus sabe o que faz”. O ser humano nunca é escusável; Deus, sempre. “Deus sabe o que faz” é o bo-tão vermelho de emergência que religiosos apertam sempre que a mente periga começar a raciocinar.
A um crente é praticamente impossível escrutinar (“examinar com atenção e minúcia, a fim de descobrir, perceber, conhecer” suas convicções religiosas, porque onde há devoção não há olhar crítico. Por tender a aniquilar a fé, a dúvida é a principal inimiga das religiões, motivo por que incutem nas mentes de seus seguidores que duvidar é afrontar Deus.
A verdade é que duvidar é a coisa mais natural do mundo, tão natural que até é fácil fa-zer um cristão ter dúvidas religiosas sem sentir que está desafiando Deus. Basta di-zer-lhe, por exemplo, que o Islã é a religião verdadeira. O cristão não só duvidará como até rirá. Duvidar de sua própria religião é pecado. Duvidar da religião dos outros é um dever.
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