Para alguém que cresceu ou passou décadas no mundo paralelo da religião, deixá-lo para trás não é tão simples quanto virar a página dum livro. Com base na noção bíblica de que os seguidores de Cristo “não são do mundo”, da que resulta que quase tudo é mundano e, por conseguinte, desprezível, grande parte de sua vida gira em torno de coisas relacionadas à igreja. As atividades recreativas, músicas, livros e revistas, filmes e programas de TV, roupas, a escola dos filhos, praticamente tudo está sob in-fluência da organização religiosa a que ele pertence.
Seu círculo social é composto quase exclusivamente de irmãos na fé e é bem provável que também seus parentes sejam membros da igreja. Em face disso, não tem como a pressão psicológica não ser grande e é quase impossível o processo de separação da igreja não ser doloroso, até traumático.Na maioria das vezes, quem se desvenci-lha das amarras do Evangelicalismo passa a viver sob o estigma social de ovelha negra.
Pessoas próximas a um ex-evangélico sem-pre o verão como um rebelde que se encontra sob influência de forças malignas que o querem levar à perdição, um desviado que carece de muitas orações para que, como o Filho Pródigo, reconheça seu erro e retorne ao seio da igreja, sem a qual não faz sentido viver.
Some-se a isso os crentes que passam a falar mal do rebelde, com julgamentos do tipo “Ele nunca foi um cristão de verdade” ou “Ele quer ser livre para pecar”. O que deveria ser a coisa mais natural do mundo— viver sem religião — é visto como algo vil. Por incrível que pareça, vídeos de pes-soas que na internet compartilham sua ex-periência de desconversão recebem inúme-ros comentários negativos de crentes, que vão desde ameaças de castigo eterno até a xingamentos.
Desnecessário dizer que religiosos têm suas religiões como indispensáveis. Não lhes é possível conceber que alguém possa ter razões legítimas para delas não querer fazer parte, quanto mais deixá-las. Não ha-veriam, então, os pais que veem sua igreja como algo imprescindível para si de querer que seja vista da mesma maneira por seus filhos? E como haveria essa mentalidade de não exercer pressão psicológica de quem acha que filhos de pais evangélicos são livres para deixar a igreja.A internet está cheia de depoimentos de adolescentes e jovens que querem romper com a religião, mas sofrem com a inevitável decepção de seus pais e familiares e a pos-sibilidade de com eles entrar em conflito, o que faz a maioria optar por continuar fingindo.
Longas décadas de intensa doutrinação religiosa levam muitos crentes a ver igreja e Deus como um amálgama, do que se segue que dar as costas à igreja é visto como dar as costas ao próprio Deus. As raízes da catequese são tão profundas que nas mentes de muitos dos que se libertam da igreja sobrevive algo da concepção bíblica dum deus zeloso que não tolera dissidência, e isso acaba levando alguns desgarrados a regressar ao rebanho, especialmente quando suas famílias não se cansam de fazê-los sentir que viver sem religião é trilhar o caminho que conduz à 'perdição"
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