domingo, 5 de maio de 2024

Dogmas cretinos do Cristianismo



 O Inferno é um dos principais dogmas do Cristianismo. Sempre que Jesus queria botar medo em seus ouvintes, mencionava o lago de fogo e enxofre. Tenho a impressão de que a Igreja Católica, quem sabe para parecer moderninha, hoje bate menos na tecla Inferno, permitindo que ele seja tema quase exclusivo das igrejas evangélicas. 

Talvez essa não tenha sido a mais inteligente das decisões, pois amedrontar com Diabo e ameaçar com Inferno ainda é uma das melhores estratégias para amolecer o coração de pecadores, como se vê no vertiginoso crescimento do Evangelicalismo. Seja como for, tentemos imaginar um lugar em que pessoas são afligidas, agoniadas, atenazadas, atormentadas, castigadas, flageladas, mortificadas, penalizadas, punidas, queimadas, supliciadas e torturadas por muito tempo. Não, não 265 dez mil anos. Nem dez milhões de anos. Dez bilhões de anos também não. Caramba, mas dez bilhões de anos é tempo à beça! Eu sei, eu sei, mas estou falando de tempo pra cachorro, pra caramba, pra chuchu, pra dedéu mesmo. Um período em que bilhões de bilhões (engraçado, escrever isso me fez pensar em Carl Sagan) de anos não chegam a ser nem um piscar de olhos: a eternidade. Isso mesmo. Bilhões de pessoas chorando e rangendo os dentes numa colossal fornalha por infinitilhões de anos. Forevermore forever and ever! O caro leitor conseguiu imaginar isso?

O Inferno é o dogma mais estúpido do Cristianismo e Islã e que melhor evidencia o caráter perverso dessas religiões. Como disse o autor e ex-pastor americano Daniel Edwin Barker, “Qualquer sistema de pensamento ou religião que contenha tal ameaça de violência física é moralmente falido”. O Inferno é irracional já por sua atroz desproporcionalidade. Apesar de viverem em média 65 anos, os seres humanos são torturados por toda a eternidade. (Das milhares de denominações cristãs, só um punhado prega que o Inferno não é eterno.) 

 Como todos os seres humanos do passado, presente e futuro, você, caro leitor, está condenado e perdido. Mas não se descabele: você pode ser salvo. Basta admitir ser um pecador indigno, necessitado de salvação, e aceitar Jesus como seu salvador. O apóstolo Paulo escreveu: “Se você confessar com a sua boca que Jesus é Senhor e crer em seu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, será salvo. […] Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Romanos 10:9,13). Com base nisso, imagine um homem que é tão malvado, mas tão malvado, que quando olha para as flores elas murcham. Onde pisa, não brota nem comigo-ninguém-pode. Sua vida é dedicada à prática de tudo que é mau. Mente, engana, trafica, espanca, rouba, sequestra, estupra, tortura e assassina. Porém, nos últimos segundos de vida o facínora se arrepende de todos os seus pecados e “invoca o nome do Senhor”. Consequentemente, vai para o Céu passar a eternidade entoando louvores no paradisíaco jardim de sua fulgurante mansão de ouro. 

Por outro lado, um aclamado cardiologista que se consagra a salvar a vida de pacientes pobres e, por promover o diálogo entre as nações, é laureado com o Prêmio Nobel da Paz vai para o Inferno passar a eternidade urrando de dor nas churrasqueiras satânicas simplesmente por não ter crido em ser invisível algum.

 Imaginemos ainda um homem que não faz outra coisa senão pregar o Evangelho. Ano após ano, década após década, com a Bíblia na mão, roda o mundo propagando Jesus. Funda igrejas, escreve livros e fala no rádio e TV. Nos quatro cantos da Terra, seu magnético carisma atrai multidões a estádios de futebol e milhares de pessoas são batizadas. Contudo, um belo dia as doutrinas cristãs começam a lhe parecer absurdas. Envolto em dúvidas inclusive sobre a existência de Deus, catapum! Um infarto fulminante. Supondo que Céu e Inferno existam, para onde esse evangelizador das massas vai: para cima ou para baixo? Como resultado de seu incansável trabalho missionário, milhares de conversos são brindados no Paraíso com palacetes de ouro, sem, entretanto, poderem agradecer àquele que os converteu, pois o vacilo espiritual do televangelista o teletransportou direto para aquele lugar em que todos imploram para ter o privilégio de poder comer o pão que o Diabo amassou, mas em vez disso têm de se contentar com a fumaça dum gigantesco braseiro que assa evangelizadores vacilões junto com aqueles que dedicaram suas vidas à prática de tudo que é mau, mentiram, enganaram, traficaram, espancaram, roubaram, sequestraram, estupraram, torturaram e assassinaram. De não muito longe, o pastor ouve os gritos de Hitler, Stalin, George Bush e Vladimir Putin. Se tiver azar, o Dianho o confunde com um deputado federal e o bota para grelhar com a Frente Parlamentar Evangélica. A coisa fica ainda mais estrambótica quando se tenta imaginar como os habitantes do Paraíso serão capazes de gozar a vida eterna sabendo que bilhões de seres humanos estão sendo “atormentados dia e noite, para todo o sempre” (Apocalipse 20:10). Tendo o suave gorjeio dos passarinhos como fundo musical no quintal de sua mansão de ouro, o que sentirá um cidadão do Céu ao se esticar na rede para saborear paradisíacas uvas e de repente se lembrar de sua filha, que, por ter rejeitado o Cristianismo, está sendo torturada no forno infernal, implorando para morrer? Será que ele dará de ombros e dirá: “Azar o dela!” ou “Eu bem que avisei!”? Ou será que perderá o apetite? Ou terá Deus reprogramado os salvos não só para nunca mais pecar mas também não pensar em seus familiares perdidos? A Bíblia não especifica se os castigos a que os ímpios são submetidos no Inferno são proporcionais aos pecados que cometeram. Supondo que sim, estará o Tártaro dividido em departamentos, uma área reservada a assassinos, outra a ladrões, outra a estupradores, outra a homossexuais e assim por diante? E se alguém tiver sido assassino, ladrão, estuprador e homossexual, onde encaixá-lo? E o que dizer de quem foi ateu, mas cometeu só pecadinhos mixurucas? Será sua pena tão severa quanto a dum genocida? No filme Desconstruindo Harry, de 1997, Harry Block, personagem interpretado por Woody Allen, faz uma visita ao PéCascudo. O Inferno é dividido em níveis, aliás uma concepção oriunda do Alcorão. Enquanto o elevador desce, uma voz feminina anuncia: Quinto andar: assaltantes de metrô, mendigos agressivos e críticos literários. Sexto andar: extremistas de direita, assassinos em série e advogados que aparecem na televisão. Sétimo andar: mídia. Desculpem, este andar está lotado. Oitavo andar: criminosos de guerra foragidos, Só isso já é mais que suficiente para expor a irracionalidade dessa doutrina.

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