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A Liberdade e o Peso do Não


 


frase “eu faço o que quero, sou livre” ecoa como um hino ingênuo da modernidade. Nela, confundem-se autonomia e capricho, maturidade e impulso. É, na verdade, o eco de uma liberdade infantil, aquela que confunde ausência de limites com plenitude de ser. No entanto, como já advertia Kant, a verdadeira liberdade não está em obedecer ao apelo momentâneo da vontade, mas em elevá-la à altura da razão, submetendo o desejo ao tribunal do tempo e da responsabilidade.

Para Kant, o homem livre não é aquele que se perde no arbítrio dos sentidos, mas aquele que se deixa guiar pela lei moral, que nasce em sua própria razão. Ser livre é, portanto, não apenas fazer o que se quer, mas sobretudo saber não fazer o que se deseja quando esse desejo escraviza. Quem se deixa arrastar pelo doce, pelo álcool, pela cólera ou pelo prazer imediato não é autônomo, mas cativo de seus próprios impulsos. Dizer não, em muitos casos, é a mais radical afirmação da liberdade.

Séculos antes de Kant, os estoicos já intuíram essa verdade. Epicteto lembrava que não temos poder sobre os fatos externos, mas sobre a maneira como respondemos a eles. A disciplina da vontade, a capacidade de dizer não aos impulsos que obscurecem a razão, é o que funda a liberdade interior. Quem governa a si mesmo é invulnerável ao acaso.

Nietzsche, por sua vez, oferece um contraponto fecundo. Para ele, a vida não deve ser reduzida ao ascetismo nem sufocada pelo dever. Mas ainda assim, a grandeza do espírito livre não se mede pelo simples gozo, e sim pela capacidade de transvalorar os próprios instintos. O homem forte não é o que se deixa arrastar pelo desejo, mas aquele que o modela, que o transforma em criação. O não nietzschiano não é negação da vida, mas força seletiva, que escolhe o que dignifica e descarta o que degrada.

Sartre radicalizou ainda mais a noção de liberdade ao afirmar que estamos condenados a ser livres. Cada escolha, cada sim e cada não, desenham o mapa de nossa existência. Fugir do peso desse ato é cair na má-fé, isto é, iludir-se de que somos apenas vítimas do mundo. A liberdade sartreana é dura porque é responsabilidade, porque cada recusa ou aceitação é um fardo intransferível.

Na contemporaneidade, Byung-Chul Han observa que vivemos na sociedade do desempenho, onde o imperativo não é o da proibição, mas o do excesso. Não mais ouvimos “tu não deves”, mas “tu podes tudo”. Nessa atmosfera, o não é quase uma heresia. No entanto, apenas o não restabelece fronteiras contra a fadiga, contra a compulsão produtiva, contra a dissolução do eu no fluxo incessante das demandas. Ser livre hoje é resistir à positividade esmagadora do sim permanente.

A maturidade emocional, não se mede pela quantidade de desejos satisfeitos, mas pela capacidade de reconhecê-los e governá-los. A liberdade autêntica é sempre vigilância, é saber que o tempo presente não esgota a vida. Dizer não a um doce, a uma raiva, a um gozo imediato não é empobrecer-se, mas afirmar que o ser humano não é mero servo do instante, e sim um construtor do futuro.

 

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